Saturday, March 14, 2009













A última do Bennet:

_As charges funcionam na mídia como um instrumento de síntese do raciocínio crítico sobre a situação que vivemos, promovem um inteligente ponto de partida para a discussão e compreensão dos fatos que compõem a nossa história. E um conceito caro ao nosso país — a liberdade de expressão — não significa que podemos dizer qualquer coisa sem pesar as consequências de sua ação.

_Com muito pesar, achei asfixiante e de gosto duvidoso a última charge publicada na página de Opinião da Gazeta, no sábado, 14 de março. Quer dizer que o presidente americano Barack Obama é um negro que só pode servir cafezinho? Quem acredita que aos negros estão reservados apenas funções de subserviência, ocupando, por exemplo, um lugar na cozinha ou na área de serviço? E que não podem, dentro de um estado democrático, alcançar novos papéis como agentes de transformação social e política? Ou seria mais inteligente a crítica da charge se fosse o Lula servindo cafezinho ao Obama, rendendo-se ao fato de que os Estados Unidos efetivamente estão vencendo a luta contra o racismo?

_Nas entrelinhas, uma charge como esta revela o quanto ainda estamos longe da chamada "democracia racial" — aliás, sofismo criado para esconder a falta de iniciativa pública em combater o crime hediondo de racismo. E como este preconceito contra os negros ainda reina em diversos setores da sociedade que deveriam defender o fim dessas diferenças, fundamentadas na ignorância de uma suposta superioridade de raça, entre outros espúrios argumentos. Ao que parece, os reflexos de 300 anos de crimes contra os negros no Brasil são discretamente perpetuados, e por isso vergonhosamente presentes em nosso cotidiano.

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