Tuesday, April 21, 2009

polaroids

_Uma segunda nublada. Quase 6 da tarde. Saindo da livraria onde procurei por uma pasta diferente, topei com os tradicionais senhores da Boca Maldita em polvorosa. Gritavam, exaltados. O motivo estava em frente à galeria. Duas pessoas beijavam-se ali. Naquele estilo "emo", demorei pra reconhecer que uma delas era também menina. Desconhecendo a área onde estavam e também a balbúrdia que causavam, uma entrou na galeria em direção aos elevadores. A outra desapareceu rapidamente. Ouviam-se muxoxos de "gomorra", "fim dos tempos", "na minha época". Mas um sorriso maroto surgiu nas faces de alguns daqueles sisudos senhores da Boca.

Friday, April 17, 2009

da pesquisa

_Voltar para a universidade tem sido uma experiência gratificante, e pra não perder a rima, estafante. Conciliar trabalho com estudos compromete a qualidade do segundo item. Mas não reclamo nem posso ficar no clichê de “coitadinho-nasceu-pobre-tem-que-trabalhar”. É uma benção – literalmente – ter à disposição toda a infraestrutura da universidade que estou cursando para desenvolver o talento inerente. E descobrir outros. As primeiras notas não tem sido as esperadas, e ainda posso recuperar nas seguintes avaliações. Na verdade, ainda não descobri um ritmo melhor para tirar mais proveito das disciplinas apresentadas, e o essencial, toda a vivência que alguns professores compartilham em sala.

_Nesta quinta, forcei um pouco a situação na empresa e pedi a tarde para colocar os estudos em dia e preparar um trabalho sobre Aspectos Contemporâneos. Um assunto espinhoso: apresentar os pontos positivos do regime militar. Na verdade, pedi ao professor que me oferecesse este tema. Para acusar o regime de exceção a bibliografia é completa, sob vários aspectos. Farto material está disponível que acusa, prova e julga com louvor todos os abusos, equívocos, crimes, assassinatos e demais erros cometidos pelos governos militares. Por isso mesmo, a pesquisa foi interessante, e cuidadosa. Não era o objetivo do debate apontar os culpados, mas sim entender o contexto histórico e os motivos que levaram o Brasil a enfrentar 21 anos sob a égide dos homens-oliva.

_Encontrei nos livros do Elio Gaspari um relato histórico, conciso, rico de detalhes que obrigam o leitor a uma viagem profunda a era de chumbo e assistir a todos os meandros dos governos militares. Outra fonte interessante é o trabalho de Thomas Skidmore, publicado em 1988. Relata o cenário político-econômico que antecede o governo de Jango e entrega outros sobre o golpe de 64.

_Não poderia apresentar um texto escrito longo, pois o professor exigira algo mais sucinto para argumentar durante o debate. As cinco laudas foram úteis para o exercício em sala de aula. Além do resumo histórico publicado no final das páginas dos livros do Gaspari. Uma tabela contextualizando datas com fatos políticos, econômicos e culturais, como por exemplo a chegada de Wilhelm August Geisel, 5 anos antes da abolição da escravidão.

_Mas algo sai meio estranho. Há um clima de confrontação na sala de aula assim que o professor determina os lados de “acusação” e “defesa”. Os ânimos se exaltam quando um lado dispara que o regime militar matou “um monte de gente”, impôs a censura para todos os jornais, endividou o país, fez obras faraônicas e censurou toda a imprensa [de novo].
Deste lado, a apresentação de cada argumento era seguida de risos e muxoxos à meia-boca, e mais repetição das mesmas acusações. Sem argumentação. Sem pesquisa. Sem contextualização histórica.

_ A tarefa de defender o regime militar que se oficializou no Brasil no dia 31 de março de 1964 não foi fácil. Ao ponto de impedir uma visão imparcial dos motivos que levaram uma junta militar a depor João Goulart e assumir os rumos políticos, econômicos e sociais do Brasil até 1979.

_Isso me lembra um artigo que li a respeito da qualidade da pesquisa universitária. A falta de memória histórica do estudante hoje. Vive num eterno cotidiano? Tem preguiça de pesquisar? Ou é tudo culpa do Google, com suas respostas quase prontas? Ou da falta de critérios para compreender que é necessário buscar e consolidar as pesquisas nas tradicionais fontes, os livros?

_Tive a impressão, ao levantar a voz impaciente e cobrar da “oposição” fatos com embasamento histórico, de que as chances de vivenciar uma discussão saudável tenham sido deturpadas por um sentimento de revanchismo e defesa de uma liberdade ainda não compreendida, e de que é preciso humilhar o oponente para provar seu ponto de vista, por vezes mal elaborado.

Monday, April 06, 2009

Para pensar

_Com a reportagem da Folha de S.Paulo, começou a tentativa de derrubar as pretensões de candidatura da ministra Dilma Roussef à presidência em 2010? A quem esta reportagem interessa: à população, para conhecer a vida da mulher forte do governo Lula? Para atender interesses secundários dentro do PT, incomodado com seu trabalho? Ou os interesses secundários da oposição que pretende apoiar uma candidatura Serra/Aécio?

_Eis algumas leituras necessárias para entender o que está acontecendo:


http://www.viomundo.com.br/
http://www.rodrigovianna.com.br/
http://www2.paulohenriqueamorim.com.br/

Tuesday, March 31, 2009

amenidades

_Aulas puxadas. Pelo menos para quem procura saber além do que acontece fora da sala de aula. Há uma semana, uma senhora palestra do jornalista Caco Barcellos. Nem passei a limpo a quantidade de notas mentais que a apresentação rendeu. Um trabalho sobre uma peça do Festival de Curitiba. Aliás, bem escolhida por um colega e que também rendeu inúmeras notas e ideias. Nesta semana, prova de Fotografia, entrega de trabalho de Sociologia. E a polêmica sobre o diploma de jornalismo. Tem muitos argumentos que precisam ser ponderados. Diploma não faz um jornalista, mas com um debaixo do braço, você tem que ser responsável pelo que faz. Quem não tem faz parte de uma geração que adquiriu conhecimento através da experiência, de muita e muita e muita leitura e a construção de um patrimônio moral inabalável. E eles estão tornando-se raros. E no lugar temos quem?

_As premissas que formam a liberdade de expressão precisam ser defendidas com todo o vigor. Se existem interesses escusos das empresas de comunicação, que vendem a informação conforme a exigência do mercado, e pessoas que usam do jornalismo para satisfazer egos e bolsos, o combate deve ser feito através das ferramentas que a sociedade brasileira conhece. Não se trata de impedir um médico ou um advogado de expor sua opinião em um jornal, ou fazer um programa de tv. Estes veículos precisam contar com jornalistas profissionais para checar, redigir, checar novamente, confrontar dados, editar/diagramar e publicar. Se a faculdade não capacita o pensamento, pode ser a porta de entrada para ampliar o debate para a prática do bom jornalismo.

_Depois tem mais.

Friday, March 20, 2009

_Consegui, na sorte, assistir a uma peça do Festival de Teatro. Aquela Mulher, na pré-estreia da peça de Marília Gabriela em Curitiba. Foi no TUCA, da PUC, e confesso que foi uma experiência única. Vou concluir o post completo mais tarde, mas aidanto que a força da interpretação ao vivo é algo que você nunca esquece. Deixa claro o quanto precisamos valorizar o teatro.

Saturday, March 14, 2009













A última do Bennet:

_As charges funcionam na mídia como um instrumento de síntese do raciocínio crítico sobre a situação que vivemos, promovem um inteligente ponto de partida para a discussão e compreensão dos fatos que compõem a nossa história. E um conceito caro ao nosso país — a liberdade de expressão — não significa que podemos dizer qualquer coisa sem pesar as consequências de sua ação.

_Com muito pesar, achei asfixiante e de gosto duvidoso a última charge publicada na página de Opinião da Gazeta, no sábado, 14 de março. Quer dizer que o presidente americano Barack Obama é um negro que só pode servir cafezinho? Quem acredita que aos negros estão reservados apenas funções de subserviência, ocupando, por exemplo, um lugar na cozinha ou na área de serviço? E que não podem, dentro de um estado democrático, alcançar novos papéis como agentes de transformação social e política? Ou seria mais inteligente a crítica da charge se fosse o Lula servindo cafezinho ao Obama, rendendo-se ao fato de que os Estados Unidos efetivamente estão vencendo a luta contra o racismo?

_Nas entrelinhas, uma charge como esta revela o quanto ainda estamos longe da chamada "democracia racial" — aliás, sofismo criado para esconder a falta de iniciativa pública em combater o crime hediondo de racismo. E como este preconceito contra os negros ainda reina em diversos setores da sociedade que deveriam defender o fim dessas diferenças, fundamentadas na ignorância de uma suposta superioridade de raça, entre outros espúrios argumentos. Ao que parece, os reflexos de 300 anos de crimes contra os negros no Brasil são discretamente perpetuados, e por isso vergonhosamente presentes em nosso cotidiano.

Wednesday, March 11, 2009

Correrias

_Perdi a conta nesta semana, mas tem cerca de 6 livros recomendados para leitura solicitados pelos professores, desde o início do curso. E mais alguns 7 ou 8 que foram citados "au passant" para referências essenciais da formação de um jornalista. Só não quero perder o prazer da leitura pela obrigação acadêmica. Particiono a leitura para não perder o foco, principalmente nas aulas onde a leitura foi indicada. Saber do que exatamente o professor está falando é meio passo para assimilar o conteúdo oferecido.

_O problema é ir à biblioteca e não trazer na mochila mais do que o necessário. Sempre gostei de ler porque te oferece a condição única de entender uma parte do mundo, adicionar à outras ideias que vivem na sua mente e tentar organizar tudo em alguma futura conversa ou fundamentar argumentação coerente quando for dizer algo. Tomei gosto pela leitura para tirar algum proveito da asma que me perseguiu na tenra infância e me obrigava a ficar quieto, quando a mente voava longe.

_Evito sorrir nas aulas da professora Nilma...

_O processo de aprendizagem em uma universidade obriga uma boa parcela dos estudantes a repensar seu jeito de estudar. Questionar passa a ser um objetivo essencial, para sair da sala com a ideia principal assimilada e buscar complementos das respostas nas referências indicadas pelos professores. Minha caligrafia vai piorar muito antes de melhorar, porque tenho uma certa obsessão com a forma da letra, mas preciso priorizar a ideia do argumento apresentado. Um velho dilema que mostra sua importância em tempos de notícias sobre qualquer coisa, mas que nem sempre são úteis.

Thursday, February 26, 2009

A internet avança nas redações

Is There Life After Newspapers?

O futuro dos jornalistas entra na agenda social

O repórter está morto

_Links para ficar desesperado [ou animado...]. Um breve apanhado durante o carnaval em casa. Se em uma primeira leitura parece assustador, o fato de compreender estas transformações ajuda a desenvolver novas potencialidades para aproveitar estas mudanças. Porque ficar "paralisado" não vai ajudar na sobrevivência da espécie.

Wednesday, February 25, 2009

sem carnaval

_Aproveitei os dias de Momo e de outras entidades para colocar estudos, casa e a convivência com minha filha em dia. Retomar os estudos depois das mini-férias merecidas exigiu a construção de uma nova rotina diária. Cair cedo da cama não pode ser obrigação, pois gosto de ler e "ficar sabendo antes". Este, aliás, será o grande problema a ser enfrentado na universidade e na via profissional: quase tudo me interessa...

_Uma crise se instala no jornalismo. Mas antes da financeira-global-especulativa. Uma passadinha por aqui e aqui vai ajudar a compreender a verdadeira natureza da tal crise quando se fala em negócios da comunicação. Quanto à produção de conteúdo, inúmeras vertentes apontam para soluções que envolvem velhas mídias [rádio/tv/jornal] que funcionarão junto com as novas [web/celular/notebooks]. Só não dá pra aceitar tudo como definitivo e certeiro. Gostei, particularmente, do trecho no blog do Dória: "
  • É interessante essa visão por que muito se fala que um site ou jornalista tem que ter perfil no Twitter, no Flickr, ter blog, mas nunca se sabe muito bem o motivo. A maioria vai na inércia ou pelo modismo e monta um perfil nesses sites apenas para marcar território, como um fim e não um meio para alguma coisa.
  • Outra coisa é que esse conceito não cai no tecnicismo, no sentido de que você tem que saber mexer em sites de edição de imagens e vídeos, caso contrário, está fadado ao fracasso profissional. Para mim, mais importante do que aprender a mexer no Photoshop ou no iMovie é dominar conceitos. Técnicas e softwares de edição de imagens e vídeos vão e voltam. Conceitos ficam."

_Procurando bem, e quase sem querer, você encontra muitos serviços interessantes na web que te obrigam a dizer "porque não pensei nisso antes?" No site Trocando Livros você dá fim naquela biblioteca que não te interessa mais. Vou dar uma boa olhada antes de falar mais sobre este novo serviço.

Thursday, February 19, 2009

pilha de livros

_com toneladas de páginas para ler, estamos na 3ª semana de aula. Animado com fotografia e as histórias do professor-galã [segundo algumas meninas da sala...]. A leitura recomendada por ele é muito interessante e ao mesmo tempo confortavelmente conhecida, pois como designer gráfico procurei sempre as melhores fontes bibliográficas para pautar argumentos para sustentar as ideias junto a clientes e alguns patrões sem-noção estética. Em geral, todas as disciplinas apresentadas no curso muito me desafiam, e mesmo apreensivo com o volume de coisas para ler e principalmente compreender, estou satisfeito com a nova rota que escolhi. As conversas fora do contexto das aulas, mas intimamente ligadas aos assuntos abordados, ampliam a sensação de fazer a coisa certa.

_mesmo adotando uma atitude mais zen, acabei sendo rude [uia] com um veterano folgado que veio à sala para falar sobre o trote, na sexta antes do carnaval. Com um papinho desconexo, uma argumentação tosca como o propósito de "fazer amizades" foi me irritando aos poucos. Custa-me a acreditar que um estudante de jornalismo ainda não tenha percebido que não cabe mais este tipo de trote movido à álcool e brincadeiras depreciativas. Se a intenção era de confraternização, os veteranos apenas deixam claro que não aprenderam nada na universidade, e não conseguem acrescentar valor para aqueles que começam seus estudos visando uma evolução pessoal e profissional.

_Meu primeiro trabalho acadêmico me ensinou mais do que o professor pediu. Ao sair às ruas para fazer uma simples pergunta [uma enquete sobre violência em Curitiba], senti a dificuldade de abordar pessoas para realizar a tarefa. Não iria parar ninguém, porque não gostaria de ser interpelado para responder perguntas enquanto estivesse caminhando, pois estou sempre "com pressa pra chegar em algum lugar". Resolvi abordar pessoas que estivessem paradas em frente a lojas, ou sentadas. Como precisava de 5 respostas, decidi que faria a questão para 15 pessoas, sendo uma parte casais novos e de meia-idade, mulheres e homens com crianças, dois jovens de ambos os sexos. Na primeira abordagem, um turista. Na segunda, a vítima era de outra cidade... Outra coisa complicada foi a abordagem: quando dizia que era "estudante de jornalismo", cenhos se fechavam e nomes eram "não-ditos". Foi uma coisa chata receber uns "nãos" estúpidos para algo tão simples. O que aprendi: não precisa dizer que você é jornalista...até para poder obter todas as respostas necessárias...

Saturday, February 14, 2009

recomeços

_Existem inúmeras oportunidades para que você realize seus sonhos. Por um tempo, acreditava que deveria pedir e esperar. Quando as coisas não chegaram, aprendi que pedir não basta. Você precisa saber o que precisa pedir. E não basta apenas isto de novo. Você precisa fazer para que as coisas aconteçam. Então, estou na universidade, reatando comigo o sonho de fazer o que realmente preciso fazer. Uma nova jornada, para aprender a ouvir as histórias que todos tem para contar. E o que fazer para descobri-las. A profissão mais odiada do mundo me espera : jornalista.

...

…Trote. Eis um assunto delicado no meio acadêmico. Tem gente que gosta, principalmente de aplicar nos calouros a cada ano novo letivo. Geralmente servem para constrager, impor o ridículo, vexatório, degradante, em detrimento do objetivo de congratular o espírito acadêmico de compartilhar conhecimento. Outros acreditam que faz parte da cultura universitária, sempre divertida, um rito de passagem. O que mais falta, falando nisto, é inteligência na hora do trote. Como herança militar, o trote é um tipo de passo diagonal, no qual as quatro patas do cavalo se movem par a par, uma anterior com a respectiva posterior oposta. Exige técnica e perícia do cavaleiro. Como rito, também veio com as caravelas de Portugal fugidas de Napoleão.Um ritual de iniciação do novo aluno ao mundo da universidade, à vida adulta, aplicadas na Universidade de Coimbra no século XVIII. Alguns calouros gostam do trote, sentindo-se aceitos pelos demais alunos, os veteranos. Mas suas práticas geralmente vão contra o caráter humanista das instituições. De qualquer forma, perdendo um pouco mais de tempo pensando nisto, percebe-se nesta prática um pouco do espírito que move o país, de obter vantagens através da pressão de grupos cujos interesses ferem os da maioria. O clima incivilizado ao qual se fomenta o trote passa longe do seu objetivo de dar boas-vindas aos novos integrantes. Porque antes de tornarem-se futuros concorrentes no mercado profissional, aprendem que o uso do constrangimento e de tarefas humilhantes está fundamentado como ideal de sobrevivência de um país que cresceu às custas de favores escusos e do patenarlismo. Mesmo as notícias recentes de trotes violentos, e da recomendação das instituições, a ignorância e a repetição de atos de selvageria apenas retratam o atual pensamento de libertinagem e do prazer a qualquer custo.